Eu mesmo sou pai de duas meninas, uma de três anos e três meses e outra de um ano e sete meses, e já me vi em situações que , se não fosse eu sexologista, me sentiria em maus lençóis! Uma dessas é levar um puxão ou um apertão no pênis enquanto tomo banho….e, junto com a dor aguda vem o comentário: “xixi, xixi”, ou “teta, teta”( isso da mais nova). A mais velha por vezes me dá um tapa nas regiões baixas, ou puxa a pele do meu prepúcio e diz “isso é igual a periquita da mamãe?” Minha esposa, que é nutricionista, fica sem jeito e com “cara de nada”. Já vi minha mais velha também dizendo que a “periquita” dói quando vai ser lavada ou higienizada após urinar. Presenciei até ela dizendo que sua vagina tem cheiro forte????!!!!!!!! Como assim??????? É, alguém com certeza disse isso para ela…
Temos que ter em mente que independentemente da idade da criança, ela não tem a mesma noção sobre erotismo que temos. Falar sobre genitais não é falar de sexo. Citar partes do corpo “proibidas não é estar estimulando precocemente. Somos nós pais que damos o tom da conversa, e tranquilizamos nossos filhos com respostas seguras e diretas, que satisfazem a curiosidade de cada etapa.
Coloque-se no lugar de uma criança de 3 anos que aperta o pênis do pai e pergunta o que é. O que passava pela sua cabeça quando tinha a mesma idade dela hoje? Apenas uma curiosidade ingênua que não deve ser reprimida, para que não cause mal. O melhor é deixar que ela pegue, pois rapidamente ela vai soltar assim que você explicar que aquilo que ela apertou é o pênis do papai, por onde sai xixi. Se o pai reprime, se retrai ou esquiva, estará iniciando um processo de inibição na futura sexualidade desta criança – ela associa que fez algo errado, proibido. Da mesma maneira glorificar o pênis do filho, chamando a atenção ao tamanho e fazendo referências à semelhanças com o do pai ( que é adulto e portanto muito maior), causa estranheza e conflito na cabeça de um menino. Se isso continuar assim ele pode se tornar um adolescente com síndrome do vestiário ( acha que o pênis dele é sempre pequeno), ou desinibido em demasia e genitalizado, achando que toda a sexualidade se expressa pelo pênis (isso acontece com a maioria dos meninos).
Independentemente da fase ( oral, anal ou genital), a criança, desde os seus primórdios explora o mundo primeiramente através dos sentidos. Até aproximadamente quinze anos de idade, o ser humano está desenvolvendo vias neuronais de motricidade e dos sentidos como tato, audição, olfato ou paladar. Está aprendendo a se situar no espaço e a reconhecer fisicamente a sí e sua interação com as coisas. Sendo assim, vão experimentar sensorialmente as coisas, e só depois dos quinze anos vão atribuir “afetos” ao mundo que conhecerem materialmente. É na adolescência que as experimentações emocionais e cognitivas começam a tomar forma. Aí sim, tudo aquilo que ela desenvolveu na parte sensorial começa a tomar sentido, ou seja, se ela teve uma relação livre com o reconhecimento de seu corpo, ela vai aprender a se erotizar, se gostar, respeitar e cuidar de maneira saudável e adequada.
Resumo prático: